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Você vem ou vai?
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Vou. Voltando pra casa.
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E onde fica sua casa?
Suspirando,
impaciente, ela diz: - Rio de Janeiro
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Por que veio?
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Vim encontrar um amigo.
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Amigo? Sei...
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Sim, amigo de infância.
Fora
encontrar uma paixão platônica de sua adolescência. Vinte anos esperando por
esse momento.
Nunca
foram amigos. Nunca foram de conversa. Mas ela sabia tanta coisa sobre ele. Não
havia explicação para tal paixonite, ela simplesmente existia. O último contato
visual fora 10 anos antes com uma conversa boba, mas que ela lembrava com
detalhes.
Os
anos se passaram. Ele casou. Ela namorou, morou junto. A vida de cada um tomou
rumos diferentes.
Há
dois anos o Facebook os uniu. Ele ainda casado. Ela, solteira. Contato zero. Ela
acompanhava todo o sofrimento dele durante a separação e pensava: “tão lindo
ver um homem sofrer por amor...”
Até
que ela resolveu dar o primeiro passo e entrou em contato. E deu o segundo
passo, o terceiro (muitos meses depois do primeiro) e finalmente, marcaram de
se ver.
Foram
15 dias de ansiedade. Sem saber como agir, como se comportar. Divagava sobre namoro
ou amizade. Às vezes queria que desse muito certo e que o encontro rendesse
frutos. Outras vezes, ansiava para dar tudo errado, evitando assim, falsas
esperanças.
E
chegou o dia do encontro. Ela chegou cedo na cidade que ele agora reside. Mais um
motivo para a tal ansiedade. Se encontraram às 22h. Abraço longo, porém tímido.
Ela pensava: “Como pode ele não ter mudado nada? Mesmo andar despojado, mesmo
jeito de garoto...”
Foram
pro apartamento dele. Timidamente, conversaram, beberam, relaxaram, se
beijaram. E ele foi taxativo:
- Não quero
nada sério com ninguém!
- Ah, mas
não podemos cuspir pro alto. Pode cair na nossa cara e quando menos esperamos,
as coisas acontecem, ela dizia, enquanto pensava que por mais que aquele soco
no estômago doesse horrores e que ela estivesse disposta a algo mais, ela estava feliz
demais por estar ali, depois de tanta espera. O que viesse, definitivamente,
era lucro.
Na manhã
seguinte, foram pra uma cidade do interior. Clima bucólico, bebidinha, boas
conversas, várias risadas, vinho. Se ela pudesse escolher um momento de sua
viagem, seria sábado à noite. Os dois estavam relaxados, de guarda baixa, sem
defesa alguma e sem se preparar pro ataque. Eram só eles, despidos de qualquer
coisa.
E veio o
domingo... E voltaram pra capital. E ela foi pro aeroporto e estava contando
aquela história pra uma senhora desconhecida.
O avião
pousou no Rio de Janeiro e a senhora simplesmente disse: - Se a página foi
virada, nada mais justo que começar a escrever uma nova história. Cabe até
escrever um novo capítulo do que passou. O que não pode é ficar se lamentando
pelo que deu errado. A vida segue!
Ela sorri,
satisfeita com essa constatação e pergunta à senhora seu nome.
- Esperança.
A última que morre. Sempre. Não perca a sua nunca.


